sexta-feira, 22 de junho de 2007

Para onde vai o dinheiro do brasileiro

De 1987 a 2003, os gastos das famílias brasileiras com educação aumentaram, especialmente devido ao aumento nas mensalidades dos cursos superiores. No mesmo período, o uso dos ônibus diminuiu e o de automóveis aumentou, sobretudo entre os mais pobres. Os gastos com saúde aumentaram nos setores de maior renda.

Essas são algumas das conclusões dos artigos que compõem o livro Gasto e consumo das famílias brasileiras contemporâneas, organizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e lançado nesta quinta-feira (21/6) durante seminário na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da Universidade de São Paulo (USP).

Os artigos apresentam um raio X de como é gasto o dinheiro no Brasil, com base no banco de dados da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os organizadores foram Fernando Geiger Silveira, Luciana Servo, Tatiane Menezes e Sérgio Francisco Piola, todos do Ipea.

Na maior parte dos casos, foram comparados os gastos registrados nas três últimas POF, de 1987/1988, 1995/1996 e 2002/2003. A porcentagem das despesas familiares com educação subiu de 3% para 5,5%, de 1987 a 2003. Os brasileiros gastaram menos com alimentação, passando de 22% para 18,7% no período.

Os dispêndios com cultura, transportes e saúde se mantiveram estáveis. Os gastos com vestuário caíram de 11% para 5% do total. A habitação passou a pesar mais no bolso dos brasileiros: pulou de 18,5% para 22,4% dos dispêndios familiares.

Autor do capítulo sobre gastos com educação, Jorge Abrahão de Castro, pesquisador do Ipea, destaca que o aumento dos gastos das famílias brasileiras com educação foi de 74% no período entre 1987 e 2003. O aumento dos gastos, de acordo com Castro, esteve ligado à expansão do ensino superior privado.Na educação básica, em que houve expansão do ensino público no período, os gastos ficaram estáveis, correspondendo a 1% das despesas familiares, independentemente da faixa de renda. No ensino superior, os gastos aumentaram no decorrer do período.

Os gastos em saúde, de acordo com um dos autores do capítulo sobre o tema, Bernardo Campolina, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), aumentaram muito entre os 20% da população com maior renda e permaneceram estagnados entre os mais pobres. Os gastos das famílias brasileiras em saúde caíram em relação aos gastos totais, segundo Campolina.Conforme a renda sobe, os gastos com saúde também aumentam.

No setor de transportes, segundo o responsável pelo capítulo, Alexandre Gomide, do Ipea, o uso de ônibus ainda predomina entre os gastos, mas com uma variação negativa de 12,5%. Em compensação, as despesas com transportes alternativos aumentaram 134%. Entre 1995 e 2003, de acordo com Gomide, o aumento de despesas com veículos próprios ocorreu em todas as faixas de renda. A substituição do transporte público pelo veículo particular, no entanto, teve maior intensidade entre as famílias mais pobres.

No setor cultural, os dispêndios das famílias brasileiras chegaram, em 2002, a quase R$ 40 bilhões, o equivalente a cerca de 3% dos gastos totais.
De acordo com um dos autores do capítulo, o antropólogo Frederico Barbosa, do Ipea, a maior fatia dos gastos se deu no setor audiovisual (41,2%), seguido pela leitura (15,6%), pelo setor fonográfico (14,6%) e pela informática (14,6%).

Fonte: Agência Fapesp

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