A água de lastro, utilizada em navios de carga como contrapeso para que as embarcações mantenham a estabilidade e a integridade estrutural, é transportada de um país ao outro e pode disseminar espécies alienígenas, potencialmente perigosas e daninhas.
Os resultados da tese de doutorado de Keili Maria Cardoso de Souza, defendida na semana passada, tiveram papel decisivo para a inclusão do controle microbiológico do Vibrio cholerae patogênico na Convenção Internacional para Controle e Gestão da Água de Lastro e Sedimentos de Navios.
Embora tenha sido aprovada em fevereiro de 2004 pela Organização Marítima Internacional (IMO, na sigla em inglês), agência da Organização das Nações Unidas responsável pela segurança da navegação e prevenção da poluição marinha, a convenção ainda precisa ser ratificada por pelo menos 30 países para entrar em vigor – o que ainda não ocorreu.
Os resultados do estudo destacam a necessidade do controle microbiológico. O trabalho começou em 2001 com a análise da água de lastro em 105 navios a fim de avaliar níveis de contaminação e presença de agentes patogênicos.
Foram selecionados sete portos: Belém, Fortaleza, Recife, Sepetiba, Santos, Paranaguá e Rio Grande. De acordo com a pesquisadora, todos os portos tiveram a qualidade da água aprovada. “Mas é preciso fazer uma ressalva: a legislação do Conama [Conselho Nacional do Meio Ambiente] exige análises trimestrais. Nossa amostra foi aprovada apenas pontualmente”, disse.
Até 2001, as negociações para a adoção da Convenção Internacional para Controle e Gestão da Água de Lastro e Sedimentos de Navios determinavam que fossem feitas apenas análises de coliformes fecais e de controle de organismos exóticos. Com os resultados do estudo de Keili, o acordo passou a recomendar o controle do vibrião patogênico do cólera.
“Concluímos que o Vibrio cholerae é de fato transportado pela água de lastro dos navios. E comprovamos que não havia correlação entre os indicadores fecais e a presença do vibrião. Então seria preciso acrescentar esse indicador microbiológico”, disse a pesquisadora.
De acordo com dados da IMO, cerca de 12 bilhões de toneladas de água de lastro são transportadas anualmente ao redor do mundo. Um cargueiro com capacidade de 200 mil toneladas pode carregar mais de 60 mil toneladas de água de lastro.
A IMO avalia que cerca de 4,5 mil espécies são transportadas pela água de lastro pela frota mundial a qualquer momento e, a cada nove semanas, uma espécie marinha invade um novo ambiente em algum lugar do globo. Os navios mercantes, no entanto, transportam mais de 80% das commodities mundiais. Todos os navios cargueiros necessitam da água de lastro e não existem, ainda, produtos substitutos para o lastreamento.
Fonte: Agência FAPESP
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