De acordo com Moura, diversos estudos anteriores constataram a capacidade de transmissão cultural de determinados grupos de macacos. Desde 2001, sabe-se que os macacos-prego utilizam pedras como ferramentas para quebrar castanhas e outros objetos. Mas é a primeira vez que tais animais são observados realizando uma “sinfonia” de golpes com as pedras.
O grupo de macacos foi observado no Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí. Segundo o cientista, a espécie é a única em que foi observado o comportamento. “Bater objetos em superfícies parece ser uma característica inata, mas que pode ser moldada em comportamentos sociais para novas funções. Ao bater a pedra, o ruído viaja a uma distância bem maior que um grito, tornando-se um alarme eficiente”, afirmou.
Nas observações feitas anteriormente, a batucada só havia se manifestado pelos macacos para vasculhar ou quebrar alimentos, principalmente em grupos em cativeiro. “Desta vez foi constatado em um grupo selvagem. A falta do dispositivo em outras populações da mesma espécie, que têm acesso a pedras, sugere que bater pedras possa ser uma tradição social da população estudada”, disse.
Resposta social
Para Moura, os primatas reagem freqüentemente a possíveis predadores utilizando dispositivos de intimidação, mas a elaboração desses dispositivos depende do risco. “Estudos de origem evolutiva sugerem que a cultura teria um benefício muito maior em áreas nas quais o ambiente é hostil”, disse.
A capacidade de responder a diferentes predadores pode ser adquirida socialmente e as tradições sociais explicariam, de acordo com Moura, diferenças entre populações em respostas aos mesmos predadores potenciais. “Esse dispositivo foi observado em seis grupos diferentes e a hipótese mais plausível é que sua função primária seja a de um comportamento de dissuasão de predadores”, afirmou.
Em poucos casos, macacos adultos e filhotes foram vistos batendo pedras juntos, sem prestar atenção ao pesquisador, sugerindo que os mais jovens aprendiam a técnica com os mais experientes. “Macacos cativos inseridos na área do grupo estudado também, aparentemente, aprenderam a bater as pedras com os outros”, disse o pesquisador.
Fonte: Agência FAPESP
Nenhum comentário:
Postar um comentário