sexta-feira, 30 de março de 2007

O futuro em jogo

O problema do aquecimento global é o maior desafio já enfrentado pela humanidade, de acordo com sir David King, conselheiro científico do governo britânico. Por isso, o tema será o foco central do Ano Brasileiro-Britânico da Ciência & Inovação, cujo lançamento oficial foi nesta quinta-feira (29/3), em Brasília.

Em visita ao Brasil para o lançamento da iniciativa, o cientista, cujo cargo é equivalente ao do ministro da Ciência e Tecnologia no Brasil, apresentou nesta quarta-feira (28/3) conferência sobre mudanças climáticas na Universidade de São Paulo (USP), em evento promovido pelo Instituto de Estudos Avançados (IEA) e pelo British Council.

De acordo com King, o objetivo da iniciativa envolvendo os dois países é aumentar o nível da colaboração entre cientistas britânicos e brasileiros no conjunto total da agenda de inovação e geração de riqueza.

A iniciativa conjunta dos dois governos foi planejada em 2006, durante visita oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Reino Unido.

King, que também é diretor da Agência de Ciência e Inovação do Reino Unido, apontou que há um grande potencial para sinergia entre os dois países nas áreas em questão. “Estamos muito interessados nos notáveis desenvolvimentos obtidos no Brasil sobre a conversão de cana-de-açúcar em álcool, em um processo de alta eficiência”, afirmou.

Outra razão para a visita ao Brasil é discutir esses temas com o governo brasileiro e procurar posições confluentes tendo em vista a reunião do grupo G8+5 – formado pelos sete países mais ricos do mundo mais Rússia e o bloco de Brasil, Índia, China, México e África do Sul – marcada para junho, na Alemanha.

Segundo King, o governo britânico está empenhado em criar condições para que haja uma ação mais rápida com o objetivo de mitigar o problema do aquecimento global. “Esse é, sem dúvida, o principal desafio do século e está se tornando um desafio urgente. Precisamos agir rápido e o Brasil tem um papel dramaticamente importante nesta discussão.”

King iniciou sua visita ao país em Manaus, na segunda-feira (26/3). Acompanhado de cinco cientistas britânicos, visitou o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e o Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA).

“Nossa visita, em primeira instância, dará seguimento a uma discussão prévia com o presidente Lula para observar o fenômeno brasileiro da biodiversidade e examinar a possibilidade de usar o know-how científico britânico na área de biotecnologia a fim de agregar riqueza aos sistemas de biodiversidade da floresta”, afirmou. De acordo com o conselheiro científico, o governo britânico enviará cientistas durante todo o ano para levar esse processo adiante.

Urgência global

Durante a palestra na USP, King afirmou que o governo Blair apresentou projeto de lei que estabelece a meta de redução de 60% das emissões de gás carbônico no Reino Unido até 2050. “Se conseguirmos fazer com que todos os países líderes reduzam as emissões em taxas similares, teremos dado um substancial passo adiante”, afirmou.

Entretanto, para o conselheiro científico, mesmo no melhor cenário tudo o que se poderá fazer é mitigar o problema. “Já estamos em uma situação em que o que se pode fazer é evitar uma catástrofe completa. É muito tarde para reduzir o problema, mas podemos trabalhar para torná-lo gerenciável. Para isso, é necessária a colaboração de todos”, analisou.

De acordo com King, as emissões atuais de dióxido de carbono excederam todos os níveis históricos. Entre as conseqüências, uma das mais dramáticas seria o degelo da Groenlândia. “As imagens de satélites indicam que o gelo ali some em um ritmo de 200 quilômetros cúbicos por ano, muito acima das projeções feitas anteriormente com base em modelos”, disse.

O aumento de 2ºC na temperatura média global seria suficiente para desencadear um degelo maior na Groenlândia, que poderia aumentar o nível dos oceanos em 7 metros, causando uma catástrofe principalmente em países pobres.

“Atualmente, a atmosfera contém cerca de 380 partes por milhão (ppm) de dióxido de carbono, contra 275 ppm antes da Revolução Industrial. Para chegarmos à meta de não ultrapassar um aquecimento de 2ºC, precisamos estabilizar os níveis abaixo de 450 ppm. Nos níveis atuais, chegaremos a 400 ppm em 10 anos”, disse.

Fonte: Agência FAPESP

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