Cientistas brasileiros seqüenciaram cerca de 55 mil genes únicos de frutas cítricas, sendo 32 mil só de espécies de laranjas, criando o maior banco de dados científicos no setor no mundo.
O objetivo do projeto é desenvolver mapas, identificando genes associados com a resistência a doenças que ameaçam seriamente a citricultura – atividade estratégica para a agricultura brasileira, com faturamento anual de US$ 1,5 bilhão.
A pesquisa foi iniciada em 2001. Além do banco de dados, a pesquisa gerou diferentes híbridos que estão sendo avaliados em condições de campo.
Segundo Marcos Machado, diretor do Centro Apto Citros do Instituto Agronômico, o melhoramento de uma única espécie já é suficiente para compensar os esforços de pesquisa. “Dentro do quadro de variedades de cítricos do Brasil, usamos muito o tangor murcott [murcote], um híbrido de tangerina e laranja. Há 10 milhões dessas plantas apenas no Estado de São Paulo. Elas são processadas pela indústria e servem como tangerina. Se um dos nossos 400 híbridos for igual, ou melhor, que o tangor, ele já pagará todo o programa”, afirmou.
A pesquisa tem gerado grande número de publicações, mas o aspecto mais importante é o número de genes envolvidos na resposta da resistência à doença. “Investimos inclusive em plantas transgênicas dentro do grupo dos cítricos. Se vários genes de tangerina estão associados à resistência à Xylella, por exemplo, por que não passá-los para a laranja?”, indaga.
O próximo passo dos pesquisadores do Instituto Agronômico é a negociação com grupos norte-americanos para definir a participação brasileira no projeto de seqüenciamento completo do genoma da laranja. A equipe viajará em janeiro até o Joint Genome Institute, do Departamento de Energia dos Estados Unidos.
“Vamos participar em conjunto com o Consórcio Internacional para o Seqüenciamento do Genoma de Citros, do qual somos membros fundadores”, explica Marcos Machado. Ao lado do Brasil, o consórcio, fundado há quatro anos, conta com a participação de representantes dos Estados Unidos, Japão, Espanha, Austrália, China, Israel, Itália e França.
O pesquisador conta que o modelo de exploração agrícola brasileiro está esgotado, pois trabalha com poucas variedades, é altamente extensivo, tem amplo uso de defensivos e alto custo de produção. Ainda assim, o país tem chances de se tornar o primeiro produtor mundial.
A citricultura é estratégica. “Ela é a segunda atividade agrícola paulista depois da cana-de-açúcar. O Estado é o maior exportador de suco de laranja do mundo, dominando 50% do mercado mundial”, conta Machado. Além da questão crônica dos preços, a vulnerabilidade a doenças é o principal desafio atual do setor.
A doença que acarreta maiores prejuízos atualmente é a leprose, de acordo com Machado. A citricultura paulista gasta cerca de US$ 100 milhões anualmente no controle químico do agente vetor – um ácaro que transmite o vírus da doença. O maior volume de uso de acaricidas é dirigido à citricultura.
A clorose variegada dos citros (CVC), conhecida como amarelinho, que é causada pela Xylella fastidiosa, atinge atualmente 47% das plantas
O fato de as plantas de cítricos serem perenes aumenta a dificuldade de controle das doenças. Uma das mais difíceis é a gomose. “Não há estimativa precisa sobre quanto ela traz de prejuízo, mas São Paulo produz 15 milhões de plantas por ano e a gomose mata 10%”, disse.
O greening é apontado como a mais terrível doença dos citros. “Foi detectado em 2004 e ainda não há dados estatísticos sobre o prejuízo. Mas, nas partes do mundo em que a doença chegou, a citricultura acabou”, disse Machado.
O greening, de acordo com o pesquisador, está presente em cerca de 110 municípios paulistas. “A única solução é eliminar a planta. Normalmente, as doenças de plantas lenhosas não matam a árvore, mas esse não é o caso com do greening”, afirma. A doença é conhecida há cem anos, mas estava restrita à Ásia e à África do Sul.
“O cancro cítrico [causado pela Xanthomonas] é uma doença que não se vê muito, mas é uma das que causam mais prejuízos”, disse Machado. Anualmente, segundo conta, são gastos R$ 40 milhões em contenção do cancro, nas áreas em que ocorre.
“Uma vez que ela entra em uma área, não sai mais. A luta é impedir o avanço. A doença não aparece muito, justamente porque se gasta muito nos programas de erradicação”, disse.
Fonte: FAPESP
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