terça-feira, 26 de junho de 2007

Algodão vermelho e repelente

Uma nova variedade de algodão, mais resistente a pragas, entra em cena como uma alternativa aos pequenos agricultores dessa cultura. É o que esperam pesquisadores do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), que cruzaram duas linhagens de algodão e geraram uma terceira variedade, de cor vermelha, com características e qualidades das anteriores.

O algodão, que produz fibras brancas, tem o caule e as ramificações na cor vermelha. A nova variedade é resistente a diversas pragas do algodão e tem boa produtividade e qualidade de fibra, o que é incomum em plantas de coloração vermelha.

Gerado a partir do cruzamento da linhagem Texas Red, uma variedade de algodão vermelho cultivado nos Estados Unidos, e da linhagem IAC 87/544, o algodão vermelho do IAC repele pragas como o bicudo. O inseto, considerado grande vilão da cotonicultura, tem dificuldade para perceber a cor em plantas vermelhas, por isso rejeita esse tipo de vegetal.

Milton Geraldo Fuzzato, pesquisador do IAC, sugere que pequenos produtores plantem o algodão vermelho em conjunto com uma pequena quantidade de algodão comum. Dessa maneira, os insetos atacariam apenas as plantas verdes, o que tornaria o controle, à base de inseticida, mais fácil.

Da linhagem IAC 87/544, a nova variedade herdou a resistência a alguns tipos de nematóides, ao fungo murcha de fusarium e à doença ramulose, causada por um outro tipo fungo. Por ser resistente a diversas pragas, a planta dispensa o uso pesado de agrotóxicos, podendo ser cultivada de modo orgânico.

Segundo Fuzzato, a explosão da cana-de-açúcar pode expulsar grande parte dos pequenos agricultores de suas terras gerando um grave problema social. “Trata-se de um nicho de mercado bastante valorizado. Apesar de mais dispendiosa, a produção orgânica é compensada pelo preço.”

Pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) também desenvolveram variedades de algodão em cores como vermelho, marrom e verde.

Para se tornar viável comercialmente, a nova variedade de algodão deve atender às demandas do lavrador (que cultiva a planta), do intermediário (que separa as fibras do algodão) e do industrial de fiação e tecelagem.

Fuzzato explica que, além da resistência a pragas, há outras variáveis que definem a qualidade do algodão. É preciso que ele tenha grande produtividade e boa qualidade de fibras, por exemplo. Cada variável é determinada por uma informação genética, mas muitas vezes há correlação entre duas ou mais dessas características.

No caso do algodão vermelho, a planta originária dos Estados Unidos apresentava baixa produtividade e qualidade. O cruzamento com a linhagem do IAC, além de dar resistência a outras pragas, melhorou essas duas outras características. As primeiras pesquisas do IAC sobre algodão vermelho foram feitas em 1991. De lá para cá, a variedade teve ganhos de qualidade até chegar ao atual estágio.

A pesquisa é apoiada pela Agência Rural, de Goiás, e pelo Instituto Agronômico do Paraná. Em pequenas lavouras no noroeste do Paraná tem sido aplicado um inseticida que, por não levar produtos sintéticos em sua composição, pode ser usado em cultivos orgânicos. A troca de experiência pode beneficiar pequenos agricultores dos três estados.

Fonte: Murilo Alves Pereira / Agência Fapesp

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