sábado, 12 de maio de 2007

A solução está na floresta

Diminuir o desmatamento de florestas tropicais pode ser a maneira mais barata para reduzir os gases de efeito estufa e estabilizar o aquecimento global, de acordo com artigo escrito por um grupo internacional de cientistas e divulgado nesta quinta-feira (10/5) no site da revista Science.

Segundo o texto – publicado na seção Policy Forum, que recomenda estudos que podem ser utilizados em políticas públicas –, se as taxas de desmatamento forem reduzidas pela metade até 2050 e mantiverem o nível até 2100 será possível eliminar 50 bilhões de toneladas de carbono, o que equivale a mais de 10% dos cortes necessários para manter as concentrações atmosféricas de dióxido de carbono em 450 partes por milhão (ppm).

Uma concentração maior do que essa, de acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC, na sigla em inglês), levaria o aquecimento para uma margem acima de 2ºC, causando uma catástrofe ambiental em escala global.

No artigo, os pesquisadores utilizaram dados reunidos pelo IPCC para avaliar o projeto Reduzindo Emissões do Desmatamento (RED), lançado pelas Nações Unidas para investigar durante dois anos políticas e incentivos que os países em desenvolvimento possam adotar de modo a frear o desmatamento de florestas tropicais.

Os pesquisadores lembram que o desmatamento de florestas tropicais causou cerca de 20% das emissões de gases estufa de origem humana na década de 1990. Além disso, com o desmatamento, perde-se a capacidade de seqüestro de carbono, o que aumentaria ainda mais as concentrações atmosféricas.

Para um dos autores do artigo, Carlos Nobre, pesquisador do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o texto resume o que tem sido afirmado nos últimos anos pelos cientistas que estudam mudanças climáticas.

O artigo, assinado também por cientistas da Austrália, do Canadá, dos Estados Unidos, da França e do Reino Unido, ressalta que é possível reduzir as emissões sem impacto econômico.

Nobre e colegas destacam que o RED deverá fazer progressos, uma vez que vários países em desenvolvimento com vastas áreas florestais procuraram o projeto e alguns começaram a reduzir o desmatamento com dois tipos de projeto de baixo custo: redução de queimadas acidentais e redução do desmatamento em áreas que não serão utilizadas para agricultura.

O artigo agora publicado destaca que o preço do carbono no mercado é suficiente para justificar a redução do desmatamento como alternativa econômica viável. Segundo Nobre, os cálculos apresentados no artigo incluem apenas a redução do carbono causada pelas emissões, deixando de lado a diminuição que seria garantida pelo seqüestro de carbono realizado pelas florestas, caso elas sejam menos desmatadas. Isso significa que os benefícios de uma redução de 50% no desmatamento até 2050 podem ser ainda maiores que a eliminação de 50 bilhões de toneladas de carbono.

A análise ressalta que, durante a década de 1990, o desmatamento tropical foi responsável por lançar na atmosfera cerca de 1,5 bilhão de toneladas de carbono anualmente – o equivalente a 20% das emissões antropogênicas de gases causadores do efeito estufa.

Sem a implementação de políticas efetivas para redução do desmatamento, dizem os cientistas, a destruição das florestas tropicais deverá lançar uma quantidade adicional de 87 bilhões a 130 bilhões de toneladas de carbono até 2100 – o equivalente à emissão de carbono de mais de uma década das emissões globais atuais causadas por combustíveis fósseis.

Segundo Nobre e colegas, frear o desmatamento tropical tem, portanto, potencial para contribuir substancialmente para as reduções globais de emissões de carbono e é provável que as florestas tropicais persistam com as inevitáveis mudanças climáticas das próximas décadas. Por isso, concluem os cientistas, o programa Reduzindo Emissões do Desmatamento pode ter uma importante contribuição para a diminuição do aquecimento global.

Fonte: Agência FAPESP

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