A tungíase – popularmente conhecida como bicho-de-pé – pode não ser um problema de saúde preocupante para quem a contrai ocasionalmente durante as férias na praia. Mas a doença causada pela pulga Tunga penetrans é endêmica em muitas comunidades carentes, nas quais se transforma em patologia grave e configura um importante problema de saúde pública.
A conclusão é de uma pesquisa sobre a prevalência da tungíase em uma favela de Fortaleza, realizada por um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFCE) , da Faculdade de Medicina Charité, em Berlim (Alemanha), e da Universidade James Cook, em Townsville (Austrália). O estudo foi publicado na Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical.
Segundo uma das autoras do estudo, Liana Ariza, doutoranda do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da UFCE, a doença, negligenciada pelo poder público, praticamente não foi estudada. Até agora só havia estudos de casos sobre a tungíase feitos com pessoas que contraíram a doença em viagens, mas nada havia sido publicado sobre avaliações populacionais ou epidemiológicas.
O estudo foi feito com 142 indivíduos na área Serviluz/Vicente Pinzón II, um conglomerado de favelas urbanas localizada nas dunas próximas ao mar. Os indivíduos selecionados tinham, cada um, pelo menos cinco lesões por tungíase. De acordo com o artigo, nos 142 indivíduos foram encontradas 3.445 lesões – uma média de 24,2 lesões por pessoa.
Mais da metade dos examinados tinha dificuldade em andar. Fissuras nos pés, que podem servir como porta de entrada para microrganismos patogênicos, ocorreram em mais de 60%.
A pesquisa identificou que as residências dos infectados não tinham rede de esgoto e de águas tratada. Mais de 64% das casas eram feitas de madeira ou material reaproveitado e acima de 50% tinham piso de areia. A renda familiar mensal era de R$ 119.
De acordo com a médica, até o momento o tratamento padrão consiste na remoção da pulga com uma agulha estéril e na aplicação de um antibiótico tópico. Mas esse tipo de extração é considerado inviável em locais em que a comunidade está constantemente infectada. Por isso, os pesquisadores estudam métodos de controle e prevenção.
O grupo ainda não definiu medicamentos, mas concluiu que os fatores de risco estão ligados às condições sociais. “Vimos que o piso de areia aumenta a probabilidade da doença, especialmente na época de seca. A presença de animais soltos facilita o contágio, já que a pulga vive em cães, gatos e ratos”, disse Liana.
Os outros autores do artigo são Marcia Gomide, também da UFCE, Jörg Heukelbach, da UFCE e da Universidade James Cook, na Austrália, e Martin Seidenschwang, John Buckendahl e Hermann Feldmeier, da Faculdade de Medicina Charité, na Alemanha.
Fonte: Agência FAPESP
Um comentário:
Achei de suma importância o resultado do estudo. Gostaria de deixar registrado, creio que oportuno, que meu esposo é muito alérgico a picada de pulga. O quadro que ele apresenta é justamente conforme o citado na pesquisa. O corpo dele apresenta feridas em várias partes. É preciso fazer um tratamento à base de vacina e tomar antibióticos.
No local onde tem cachorro ou ambiente propício à pulga, ele procura passar bem longe, mas nem sempre é possível.
Estou relatando essa situação porque nunca tinha ouvido a respeito de pesquisas dessa natureza, por isso me identifiquei com o estudo.
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