sexta-feira, 27 de abril de 2007

Genoma oculto

Um estudo realizado na Universidade de São Paulo (USP) identificou que 74% de todos os genes humanos possuem transcrição dentro de seus íntrons. A descoberta, publicada na edição atual da revista Genome Biology, poderá ajudar a entender melhor as prováveis funções reguladoras dos genes exercida pelos RNAs não-codificantes, que por muito tempo foram considerados “lixo genético”.

Os íntrons são seqüências de bases nitrogenadas presentes no DNA, mas não no RNA mensageiro (mRNA). Ao contrário dos éxons, com os quais se intercalam na longa cadeia do DNA, os íntrons não participam da síntese de proteínas e são removidos naturalmente durante a transcrição.

A equipe, coordenada por Sérgio Verjovski-Almeida, professor do Instituto de Química da USP, encontrou mais de 55 mil RNAs intrônicos em cerca de 5 milhões de etiquetas de seqüências expressas (ESTs) depositados em bancos de dados genômicos públicos.

Os cientistas desenharam e construíram um microarray (lâminas preparadas com um arranjo de fragmentos de DNA) contendo sondas para 7.135 desses RNAs intrônicos, além de sondas para os genes codificadores das proteínas correspondentes. Com isso, detectaram padrões característicos da expressão intrônica para tecidos diferentes, como próstata, rim e fígado.

Segundo Verjovski-Almeida, o trabalho aponta para um papel importante dos RNAs não-codificadores de proteínas na regulação dos diversos tipos de células.

Os pesquisadores imaginavam que o RNA transcrito de regiões intrônicas dos genes estivessem envolvidos em diversos processos relacionados com o controle da expressão genética. Mas não se conhecia o complemento dos genes humanos nos quais os íntrons são transcritos, o número de unidades transcricionais ou os padrões de expressão nos tecidos.

As células têm mecanismos para identificar em seu genoma que certos genes devem ser ativados ou desativados em determinado momento. Depois de conhecido o genoma, seria importante descobrir onde estão os genes e, para isso, é preciso seqüenciar vários tipos de células em vários momentos, para verificar que genes estão ligados ou desligados.

Ao analisar que tipo de gene tem mais presença da transcrição intrônica, os pesquisadores descobriram que são justamente os genes reguladores de transcrição.

Para Verjovski-Almeida, é possível que os RNAs intrônicos estejam relacionados à diversidade das espécies.

Segundo ele, seria preciso seqüenciar o genoma de milhares de pessoas para avaliar essa hipótese. Com isso, seria possível também explicar a suscetibilidade de indivíduos a determinadas doenças.

O artigo Genome mapping and expression analyses of human intronic noncoding RNAs reveal tissue-specific patterns and enrichment in genes related to regulation of transcription, de Sérgio Verjovski-Almeida e outros, pode ser lido na revista Genome Biology.

Fonte: Agência FAPESP

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