quinta-feira, 19 de abril de 2007

Embrapa analisa cadeias produtivas para o biodiesel

Estudar a viabilidade sócio-econômica e ambiental das cadeias produtivas da soja, da mamona, do dendê, do girassol e da canola para a produção de biodiesel. É esse o desafio colocado para um grupo multidisciplinar de pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e que começa a ser encarado em caráter de urgência em unidades de pesquisa espalhadas por todas as regiões brasileiras.

Segundo Suzana Maria Valle Lima, PhD em Sociologia das Organizações, a pesquisa em rede pretende medir o desempenho das cadeias produtivas das culturas mais importantes para o desenvolvimento do Programa Nacional do Biodiesel. Ela esteve em Campina Grande (PB) no final de março, para discutir com pesquisadores da Embrapa Algodão envolvidos na análise da cadeia produtiva da mamona.

O projeto teve início em 2006 e tem previsão de conclusão para 2008. O produto desse trabalho deve ser um livro com os resultados das avaliações e a comparação de competitividade entre as cadeias. “Estamos elaborando um estudo de prospecção, isto é, um estudo da situação atual e um estudo de futuro para cada cadeia, porque é preciso considerar o gap temporal da pesquisa, porque o produto das pesquisas vai estar disponível só em cinco seis anos. Pode ser até que os cenários se alterem nesse intervalo”, diz Lima.

A base da pesquisa é verificar os indicadores de desempenho de cada cadeia produtiva a partir da avaliação dos potenciais de eficiência, qualidade, competitividade, equidade e sustentabilidade. O item equidade merece destaque porque é através dele que os pesquisadores vão observar se a tecnologia gerada possibilitou a geração de renda equilibrada entre os diversos segmentos que participam das cadeias.

Na avaliação da eficiência, por exemplo, os pesquisadores querem saber se as tecnologias disponíveis para o processamento de óleo garantem a rentabilidade necessária para sustentar a cadeia produtiva. A qualidade dos óleos produzidos tem um peso importante no estudo. Sabe-se, nesse sentido, que o óleo da soja possui um percentual elevado de iodo, aquilo que os técnicos chamam de “rancidez”. Esse é um fator desfavorável ao biodiesel originário da soja, dizem os especialistas.

Outro aspecto importante é o balanço energético das culturas (quanto cada cultura consome de energia para produzir bioenergia). Nesse aspecto a soja também leva desvantagem já que essa relação fica em torno de 1.42, ou seja, ela, praticamente, não consegue sequer dobrar a quantia de energia que consome para realizar a transformação dos grãos em óleo.

Uma outra preocupação dos pesquisadores se relaciona com a dicotomia entre o aproveitamento de algumas culturas para alimentação ou para a geração de bioenergia, a exemplo da soja, canola, girassol e do dendê.

Um dado importante no mercado nacional de óleo é que o país só consegue produzir pouco mais de oito milhões de metros cúbicos de óleos vegetais e gorduras de origem animal, enquanto que a demanda brasileira, entre 2004 e 2005, foi de quase 40 milhões de metros cúbicos desses produtos.

Comparando as cadeias produtivas fontes de biodiesel, nota-se que o dendê ganha disparado de culturas como a mamona e a soja, quando o quesito é rendimento de óleo por cada tonelada do produto bruto por hectare. Enquanto o dendê pode alcançar até seis toneladas de óleo por hectare plantado, a mamona chega no máximo a uma tonelada, e a soja a 0,6. Em compensação, a mamona tem um rendimento bruto de óleo de até 48%, enquanto o dendê só consegue alcançar 26%. É esse tipo de comparação que os pesquisadores devem detalhar nos próximos meses, para indicar as culturas mais viáveis ao longo prazo.

Mercado

O Brasil consome anualmente cerca de 42 bilhões de litros de diesel. Grande parte desse volume vai para os transportes, algo em torno de 33,73 bilhões litros/ano (80,3%); 6,84 bilhões litros/ano (16,3%) são consumidos pela agricultura. O setor industrial precisa de 0,92 bilhão litros/ano (2,2%); A produção de óleo de dendê é tão incipiente que o país precisa importar o produto da Malásia, maior produtor mundial. O mercado interno ainda carece de uma Importação de diesel de 6% a 8% do consumo. Para a produção do diesel dos tipos B2 ou B5 são necessários de 840 milhões a 2,1 bilhões de litros por ano de biodiesel.

Fonte: Embrapa

Um comentário:

Anônimo disse...

Apartir da estimativa de quanto deve-se produzir de biodiesel, percebi que o B2 e B5 em cima de todo o consumo de diesel e não apenas ao de transporte. Bom saber e melhor assim.