O CSEM Brasil será instalado no futuro Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BH-Tec), próximo à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A iniciativa conta ainda com a parceria da FIR Capital, empresa gestora de um fundo de capital de risco que aplica recursos próprios e de terceiros em empresas de base tecnológica. O investimento para um período de cinco anos é estimado em US$ 50 milhões. O CSEM Brasil deverá ter 50 funcionários, a maioria deles brasileiros. Heinzelmann afirmou que esses profissionais farão intercâmbio na Suíça. Apesar de a unidade prevista ser voltada para microssistemas, o CSEM também trabalhará com a aplicação na área de nanotecnologia, uma das suas especialidades.
O acordo entre o CSEM e o Instituto de Desenvolvimento Integrado de Minas Gerais (Indi), agência de desenvolvimento econômico do governo mineiro, foi assinado em 31 de outubro de 2006. Prevê troca de mão-de-obra técnica, programas de treinamento, incluindo seminários e workshops, programas científicos entre universidades e centros de pesquisa dos dois países e troca de informações de mercado. A fábrica será implantada em parceria com investidores locais para produção de nano e microssistemas, sensores e atuadores para aplicação em vários setores, como o automotivo, de bens de consumo, em equipamentos médicos, na identificação de bactérias e grupo sangüíneos, meio ambiente e telecomunicações.
Criado em 1984, na Suíça, o CSEM é um centro privado de pesquisa: 46% do seu orçamento é dinheiro vindo de empresas clientes como Rolex, Philips, Bosch, Nestlé, entre outras. Trabalham para o centro 320 pessoas. O faturamento em 2006 foi de US$ 45 milhões. A instituição atua como uma ponte entre as empresas e as universidades e institutos de pesquisa. Seu objetivo, explicou Heinzelmann, é pegar pesquisas acadêmicas que tenham potencial de se tornar novos produtos e continuá-las na fase de aplicação. O CSEM tem um portfolio de 600 patentes. Utiliza esses conhecimentos para resolver os desafios em inovação das empresas clientes. Além de auxiliar as empresas a resolver problemas tecnológicos por meio da pesquisa, essa atividade de aproximação da academia com o setor produtivo gerou 18 novas empresas.
O centro não financiará projetos no Brasil com dinheiro suíço, mas auxiliará na identificação de fontes de investimento e financiamento no País, como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e fundos de capital de risco. Heinzelmann disse que o CSEM trará recursos humanos e conhecimento, mas são os parceiros locais que levantarão o dinheiro para financiar as atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação.
O workshop do CSEM na Abit
A nanotecnologia é considerada estratégica pela associação, tanto que a Abit criou em 23 de novembro do ano passado um Comitê de Nanotecnologia Têxtil e da Confecção. Como explicou Silvio Nápoli, integrante da Abit, o workshop com o CSEM é uma atividade desse comitê. O empresário contou ainda que a comissão de nanotecnologia vai criar um subcomitê para reunir escolas voltadas ao setor têxtil e de confecção e debater as demandas em termos de ensino e preparação de recursos humanos para o mercado.
No workshop, o CSEM apresentou duas palestras técnicas. A primeira, do diretor de nanotecnologia do centro, Raphael Pugin, mostrou aplicações nanotecnológicas em outros setores que podem ser utilizadas em inovação de produtos do setor têxtil. Uma das tecnologias descritas por ele foi o processo de mixagem de polímero desenvolvido pelo CSEM e utilizado por um cliente do centro, uma indústria de papéis para impressoras. Segundo ele, a empresa queria fabricar papel polimérico para impressão, mas o polímero que utilizava causava perda de resolução da imagem impressa. Para resolver esse problema, contratou o CSEM, que aplicou o tal processo de mixagem. Nele, dissolve-se um polímero em um solvente comum e o resultado dessa dissolução é depositado em uma superfície que se torna porosa, controlando o tamanho dos poros.
Com o processo, conseguiram fazer um papel com poros de tamanho nano (o que equivale a aproximadamente um milésimo da espessura de um fio de cabelo), de modo que a tinta fica confinada nesses poros, aumentando a resolução da imagem impressa no papel.
A especialista em nanotecnologia do centro, Érika Goervary, falou sobre o que o CSEM já faz hoje em nanotecnologia e que envolve o setor têxtil. Os exemplos dados pela pesquisadora não são de uso da nanotecnologia para melhoria dos produtos têxteis em si, mas de eletrônicos aplicáveis aos tecidos. É o caso dos sistemas eletrônicos aplicados à roupa de astronautas e que fazem o monitoramento de batidas cardíacas, temperatura, pressão, entre outros parâmetros. Ela mostrou também uma roupa com sensores, uma espécie de "segunda pele", que é usada por esportistas que passaram por algum tipo de cirurgia. A roupa monitora o movimento do atleta, indicando ao médico se o paciente está recuperando os movimentos depois de ter feito a cirurgia. Outro produto, chamado Biotex, tem sensores embutidos no tecido para monitorar fluidos do corpo. Os bombeiros de Paris, na França, usam essa tecnologia de sensores em seus uniformes para monitorar sinais vitais. Com isso, é possível saber sua localização e se eles não estão se intoxicando com a fumaça, por exemplo. "As apresentações nos mostraram uma interface clara entre as áreas médica e têxtil, o que já estamos observando aqui no Brasil também", concluiu Silvio Nápoli, da Abit, no encerramento do workshop.
Instalação do CSEM complementa construção de fábrica brasileira de chip
A iniciativa da construção do CSEM Brasil é complementar ao projeto da Companhia Brasileira de Semicondutores (CBS), cuja implantação também está sendo viabilizada
A construção de uma fábrica brasileira de semicondutores vem sendo articulada desde o começo do primeiro mandato do governo Lula, quando o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) organizou os grupos de trabalho que montaram a Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE), lançada em novembro de 2003. Na PITCE, o setor de semicondutores é classificado como prioritário e o de nanotecnologia, como portador de futuro.
Fonte: Inovação Unicamp
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